sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Página em Branco



Victoria abriu os olhos mas não quis se levantar.
Diferente da música, ela não podia. Não conseguia.
Sua alma e coração estavam em pedaços. Milhares de cacos distribuídos pelo chão...
A cama sugava Victoria para o buraco negro da ilusão de que um dia ela foi inteira.
Já não entendia o significado do próprio nome.
Só conseguia pensar que seu nome estava errado. "Devia ser Marina" pensava ela "ou Elisa".
Nunca se sentiu tão distante do conforto que seu nome trazia.
Observava da cama, os feixes de luz que entravam pelas pequenas frestas da sua janela. Até ouvia os pássaros cantarem, enquanto tateava a esmo seus estilhaços para tentar se recompor.
Afinal, o tempo não espera suas dores diminuírem para começar um novo dia. Ela sabia disso, mas não estava pronta para encarar nem a si mesma.
Neste dia, Victoria levantou às três, foi ao banheiro, evitou os espelhos e voltou a deitar. Passou o dia procurando os pedaços de sua alma.
O coração podia ficar pra depois. Sua alma não.
Infelizmente não teve efeito. Não achava nada e o que achava, não encaixava mais.
Se sentia vazia, mas encarou o mundo mesmo assim.
Agora quando pensava no amanhã, no futuro, Victoria só conseguia visualizar uma página em branco.
Temeu isso sua vida toda. A falta desse tipo de visão, sempre causa danos...
Mas para seu espanto, ela já não tinha tanto medo disso.
Não sabia como ou porque, mas o vazio lhe presenteara com uma tal liberdade que nunca havia sentido.
O que iria encontrar ao por os pés fora de casa era uma enorme mistério.
Isso agora, a fazia sorrir.

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